devo ser o último tempo













Devo ser o último tempo

A chuva definitiva sobre o último animal nos pastos

O cadáver onde a aranha decide o círculo.

Devo ser o último degrau na escada de Jacob

E o último sonho nele

Devo ser-lhe a última dor no quadril.

Devo ser o mendigo à minha porta

E a casa posta à venda.

Devo ser o chão que me recebe

E a árvore que me planta.

Em silêncio e devagar no escuro

Devo ser a véspera. Devo ser o sal

Voltado para trás.

Ou a pergunta na hora de partir.


Daniel Faria

em A Explicação das Árvores e dos Outros Animais

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