Ensaio



uma tempestade na euforia, uns versos domésticos no bolso. tenho um bilhete nas veias já picado. não sei onde estou. surge-me na ideia a ideia de que não tenho reflexos na voz, nem compaixão nas suas paredes.

no autocarro as crianças brincam e choram sem ordem dos adultos. estes têm os olhos azuis como quem reflecte uma distância próxima.

ocorre-me que tudo isto pode ser um soneto, e eu, e as pessoas, e as crianças que choram e brincam, seríamos os seus versos. as pessoas reunidas em duas quadras, as crianças num terceto, eu sozinho noutro. sinto que, fazendo parte do mesmo mundo, algo nos divide.

talvez uma expectativa, ou um inverno geometricamente diferente, passado em lugares também diferentes, ou até um rigorismo ímpar na maneira de ocultar a paz.

adormeço e, quando me tocam, o algarve sou eu.


[tn]

3 comentários:

Anónimo disse...

O Algarve?

Anónimo disse...

alguma coisa contra o algarve?

Anónimo disse...

Achei estranho, só isso.