Esqueça

Esqueça minha cabeça oca
meu trago, minha cachaça, meu vinho tinto raro.
Esqueça minhas loucuras, timidez
remédios e depressão.
Esqueça minha sobrancelha receosa
meu morder de lábios
qualquer expressão.
Esqueça completamente meus dentes
minha agonia, tensão pré-menstrual.
Esqueça meu endereço, telefone, cartas de amor
música, desejos e ideais.
Esqueça nossa cama, lençol, meu olhar calado
farto, estúpido.
Esqueça minha mania grosseira
falhas verbais.

Esqueça nosso tempo
o que foi bom, o que durou.
Esqueça minha pulseira, promessas
cabelo mal cuidado, pernas depiladas
respirar cansado, unhas quebradas.
- poemas ridículos -
Esqueça minha caneta, papel
gritos e enganos, gestos e planos, desejo sentimental.
Esqueça meu choro e sorriso tacanho
meu medo estranho, tolerância, crença e fé.
Esqueça minhas verdades, mentiras e iras
maus-tratos e tratos de amor
meus beijos em completa desordem.
Esqueça meus descuidos, filmes, piano
letra e nome
meu jogo, meu naipe
dia, mês e ano.
Esqueça minhas partes, tudo
só não esqueça de mim.


Alana Alencar
(poeta brasileira)

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