as pessoas felizes

As pessoas felizes às vezes
abanavam os braços de uma forma estranha.


(As pessoas não eram felizes às vezes.
Pensei ser estimulante a divisão do verso,
mas arrependi-me.)


Às vezes, repito, as pessoas felizes abanavam os braços
de uma forma estranha.
Eu era criança nessa altura, ou nessa noite
do concerto no Coliseu, e elas dançavam
às vezes, e eu não as entendia.


As pessoas felizes às vezes
pareciam ridículas no seu afastamento,
no seu terrível afastamento
de mim.


(Pergunto-me: para quê persistir na divisão
do verso?)



Filipa Leal, genialíssima poeta portuguea

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