Por momentos, a luz sitiou o teu corpo. Era manhã.
Eu criminoso olhava-te fingindo-me adormecido.
Ousei ainda pensar que te amava, e que os meus dedos
não eram só os meus dedos no teu cabelo.
Eram vozes altas e ruidosas trepidando em paredes despidas
animais acossados pelo incêndio surpreso,
ou ainda e simplesmente
todo eu num gesto indefinido de sabedoria,
pronto a errar.
Era manhã. E a luz incidia o teu nome dentro da minha
própria cabeça. Ousei ainda nomear objectos, martirizar
a linguística até estar inapto a chamar-te, a procurar-te,
até não te saber dizer.
Apropriar-me da ruína imensa de te perder, e fazer dessa dor
uma simples canção de choro e cegueira.
Por momentos era manhã. Ou o teu corpo a minha luz sitiada.
(Fernando Dinis)
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