da validação de um golo que não existiu













A bola bateu no poste, percorreu toda a linha de baliza, creio ter entrado um bocadinho.

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O guarda-redes ainda está a meio do seu voo, mal sabe ele que esta bola não vai entrar, como exigem as regras, totalmente na baliza que há cinco anos protege.

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Mas ainda é cedo, ainda é muito cedo, ainda a bola não bateu no poste e já o árbitro olha para o árbitro auxiliar.

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E repito: ainda é cedo para os árbitros se olharem mutuamente. Se o árbitro olha para o árbitro auxiliar não vê o lance, e mais: corre o risco de distrair, com o seu olhar, o árbitro auxiliar mais próximo do acontecimento.

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O guarda-redes enfim se lança. Tsubasamente está no ar, e os olhares dos dois árbitros - o auxiliar e o principal, o juiz da partida, lamentavelmente se cruzam. Nenhnum deles vê correctamente o lance, nenhum deles sabe se a bola transpôs, ou não, na totalidade a linha de golo.

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Perante os festejos/protestos da equipa que ataca, olham os dois para o árbitro-auxiliar-mais -distante, que os ignora e deixa sozinhos. Já o quarto árbitro, ocupado com uma substituição da equipa que naquele momento atacava e que agora reclama o golo, qual último cartucho de um técnico psicologicamente em vias de ser chicoteado, não se mete ou meteria num assunto tão delicado quanto este, nem para formar quórum em sede de deliberação entre todos.

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O árbitro e o árbitro-auxiliar-mais-próximo-do-lance vão ter de decidir e, de preferência, em segundos. Pedem aos jogadores de ambas as equipas para que se afastem. Passa mais tempo do que o previsto – um minuto, dois minutos (sem contar com as interrupções dos dois capitães). É tempo a mais. O público exaspera, e assim milhares de telespectadores que pela TV acompanham o jogo (escuso de revelar o que vi da repetição repetida ao extremo).

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O juiz da partida aponta para o centro do terreno. Nada mais importa. É golo.



Tiago Nené, inédito

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