O SOL
À Inês Ramos, em jeito de agradecimento
Sinto como imagino que o sol se sente,
o sol buscando os seus atalhos
no interior das horas naturais, nos equilíbrios sem eixo,
sobre as sequências de imagens, errando nas biografias
sem molduras, sobre as silhuetas dos carros,
sem a fadiga de um pequeno abraço ou a mudez
premeditada de um delírio convalescente,
o sol explorando o infinito da superfície vagarosa,
contornando a água de uma lágrima, impalpável
e deslumbrante, silenciosamente no caminho dos versos.
O sol que na aurora apunhala a noite,
O sol que não permite que os céus se colem,
O sol que movimenta as transparências dos homens e mulheres,
O sol que apaga a nitidez dos detalhes inúteis,
O sol que dá corda aos pássaros e aos ruídos,
O sol poético, o sol insone, o sol-ignição de todas as cores,
O sol eterno, o sol-víbora, o sol que te estranha,
O sol que te ama,
O sol, o sol, o sol...
Tiago Nené
in Instalação
(a sair em 2009)
23 comentários:
vou passar a ver o sol de forma diferente a partir de agora.
um excelente poema, sim senhor.
abraço
brutal!
Não tenho palavras para te agradecer, Tiago! Hoje, com este belíssimo poema que me dedicaste, foste o meu Sol!
Vivamos, pois, sempre com Poesia e com Sol!
eu é que te agradeço pelo excelente trabalho, inês.
admiro muito a tua dedicação à poesia e a este projecto em particular, pois acompanhei de perto as dificuldades do processo.
que venham mais projectos:)
bj
Tiago
epa não quem diga: eu aos 5 anos escrevi uma coisa igual a esta mas tive vergonha de admitir?
um pouco de vergonha, meus senhores
quanta luz!
A magia deste poema está na sua aparente simplicidade de recursos, as palavras quase que deslizam na boca, apesar de expressões inovadoras como "delírio convalescente". De facto só o sol consegue exprimir essa heterogeneidade de sensações e caminhos. Na parte final a repetição "o sol" e os tipos de sol que o poeta cria está muito bem conseguido e transporta-nos para um leque de sensações contraditórias que vão desembocar na sensação das sensações "o sol que te estranha, o sol que te ama".
adorei mesmo o poema. só um poeta muito experiente consegue escrever um poema como este.
vou esperar pelo livro...
já tem editora?
"O sol que na aurora apunhala a noite"
há muito que não lia um verso tão bom.
tão simples, tão subtilmente explícito.
o meu dia estava a correr mal mas depois li isto:
"A magia deste poema está na sua aparente simplicidade de recursos, as palavras quase que deslizam na boca, apesar de expressões inovadoras como "delírio convalescente". De facto só o sol consegue exprimir essa heterogeneidade de sensações e caminhos. Na parte final a repetição "o sol" e os tipos de sol que o poeta cria está muito bem conseguido e transporta-nos para um leque de sensações contraditórias que vão desembocar na sensação das sensações "o sol que te estranha, o sol que te ama".
adorei mesmo o poema. só um poeta muito experiente consegue escrever um poema como este.
vou esperar pelo livro...
já tem editora?"
ai ana, ana, sua marota, sempre com uma pilhéria que nos anime o dia. deus a abençoe
gosto de poemas em que o todo vale mais do que cada verso.
é o caso deste.
QUANDO O SOL BUSCA SEUS ATALHOS E ENCONTRA A SENSIBILIDADE DE UM GRANDE POETA, O RESULTADO É ESTE.
UM POEMA SEM IGUAL!
PARABÉNS, TIAGO!
MUITO LIRISMO!
LINDÍSSIMO!
ABRAÇOS
MIRSE
Por qualquer razão, não foi possível deixar comentário no último post do Tiago, a micronarrativa
"Um bom poeta tem direito a escrever alguns poemas maus.
Um mau poeta devia ter vergonha."
Gostava de te perguntar: é algo em que acredites - a distinção entre bons e maus poetas? E se a resposta for sim... onde é que, na tua opinião, se traça a linha?
Obrigado pelo tempo,
Valter E.
Vamos lá a ser honestos:
O Tiago Nené é a maior promessa da nova poesia portuguesa. Aliás, parece-me que com o tempo virá a assumir-se como um vulto de tremenda importância na literatura nacional e internacional. É um Herberto Helder em potência, isto parece-me óbvio e quem não o concede tem é muita inveja.
Caro Draculea,
Desactivei os comentários pois andam por aqui uns abutres anónimos ou então adoptando personagens....enfim, são pessoas mais "insones" ..e mais não digo:)
Quanto à micronorrativa, essa distinção far-se-á sempre, ainda que subjectiva. Todavia, não deixou de ser uma graça.
Agradeço os comentários dos restantes. Quanto ao meu livro ainda não posso adiantar quando e como vai ser lançado.
Tiago N.
"Quanto à micronorrativa, essa distinção far-se-á sempre, ainda que subjectiva"?
Pois era precisamente onde recai essa subjectividade pela parte do Tiago que eu tinha colocado a questão. Em tua opinião onde ou como é traçada a linha entre o bom e o mau poeta/escritor?
Valter E.
P.S.: o nome Draculea Café Bar é utilizado para fins publicitários do espaço que abrirei dentro de sensivelmente 3 meses com a minha namorada; podes chamar-me pelo nome (Valter).
eu analiso-o em termos de profundidade, inovação estilística, capacidade de marcar positivamente uma diferença, etc. Mas em geral analiso segundo o meu sentido estético.
Se virmos bem o mesmo "problema" coloca-se em relaçao a toda a arte.
Mas tambem te digo uma coisa: o que nao gosto ignoro e nao me ponho a dizer que não gosto. Prefiro dizer bem do que gosto e geralmente digo muito bem do que gosto.
Outra coisa que nao faço: confundir a arte com os fazedores de arte.
abraço, Valter
Tiago N.
"eu analiso-o em termos de profundidade, inovação estilística, capacidade de marcar positivamente uma diferença, etc. Mas em geral analiso segundo o meu sentido estético".
Hmmm...em última instância, não é o poeta que é mau ou bom, será o seu trabalho? E ainda ulterior a isso, o valor não está inerente ao trabalho mas sim aos "olhos" de quem o aprecia... o que torna expressões como "mau" ou "bom" (seja poeta ou seja poema ou seja trabalho ou seja obra ou seja o que for em termos artísticos) nada mais do que... falácias, não concordas?
Espero que não entendas isto como um "ataque" ou uma "abutrezada"... estou simplesmente a tentar compreender como funciona a poética de uma das mais promissoras vozes da poesia nacional, segundo as mais variadas fontes.
P.S.: é que um curso de letras depois (já para não falar na necessidade fisiológica que é para mim escrever) ainda ninguém me conseguiu explicar nem eu compreender o que é isso da literatura... especialmente da boa e da má...
P.P.S.: fica bem!
Quanto à distinção entre arte e fazedores de arte, nem tu nem eu nem ninguém se poderá substituir aos únicos juízes que realmente podem desempenhar esse papel: o Tempo e a Subjectividade...
caro valter,
Sorri com isso da voz promissora;)
a primeira coisa que eu odeio são rótulos. eu, ao menos, tenho pessoas que gostam do que eu escrevo mas também pessoas que não gostam. escrevo poesia com toda a honestidade que me é possível e sobretudo com um prazer enorme.
quando estamos nestes campos, podemos dizer coisas segundo várias perspectivas. posso falar em "poeta" mas de facto o que quero significar é a sua obra.
quanto a ser "bom" ou "mau" serem falácias, pois é capaz de ser. Há milhões de juízes, que são os leitores.
Mt honestamente há muitos poetas consagrados que eu acho que não deviam lá estar, muitos que acho superficiais, outros banais, etc
voltamos à questao da "maioria". terá a maioria sempre razão? eu acho que não tem...mas poderei eu impor a minha vontade?
a arte deve ser uma coisa livre, é a conclusao a que chego. cada um faz o seu juízo.
abraço
Tiago
Tiago
Quanto à questão da "voz promissora", não o encares como um rótulo mas como um epíteto - apesar de os rótulos nos serem tão naturais numas coisas e noutra os rejeitarmos tão veementemente... eu, por exemplo, assumo-me como benfiquista mas recuso o rótulo de metaleiro... provavelmente isto diz mais sobre mim do que sobre quem me rotula!
Mas (falando em vermelhos) AVANTE: "a arte deve ser uma coisa livre, é a conclusao a que chego. cada um faz o seu juízo." Aí sim, concordamos. Arrisco-me a dizer mais: se não for livre, não será arte.
Mas voltando atrás (ou indo para a frente), o Tiago vai ser a primeira pessoa (de muitas) a quem tenho (juntamente com a minha namorada) algo a dizer: é nossa intenção ter alguns livritos no DRACULEA Café Bar para que alguns clientes nalgum dia mais solitário possam ler (ou reler) alguns autores enquanto bebem um copo... e teremos todo o gosto, se da parte dos autores houver esse interesse, em ter obras de pessoal novo que esteja em crescimento no mundo das artes - e se forem cá do burgo, tanto melhor... por isso, se o Tiago, ou outros que nos leiam, quiserem oferecer algum dos seus livros (autografados, claro) ao DRACULEA Café Bar, teremos todo o prazer em disponibilizá-los para o público. Caso contrário (porque o DRACULEA não será certamente do gosto de todos), não há problema, entendemos perfeitamente!
Abraço,
Valter E.
caro valter
será um prazer não só ter lá livros das pessoas cá do algarve como organizar eventos.
um abraço
Tiago
Tiago, já há algum tempo (antes de ter completa noção de quanto tempo levaria a conseguir abrir o DRACULEA) tinha por cá deixado uma sugestão semelhante à tua: eventos "texto-ais" ou outros que tais... infelizmente não obtive qualquer resposta pelo que presumi que não houvesse qualquer interesse da vossa parte enquanto um todo (partindo do princípio de que o são) nem enquanto individualidades. Mas como já tenho dito, tenho consciência de que o DRACULEA não será para todos os gostos pelo que não levei a mal o (vosso) silêncio.
Ficamos assim conversados por ora. Quanto à tua obra, na altura que abrirmos, terás com certeza ocasião para no-la entregar em mãos e autografada. Quanto aos futuros possíveis eventos, também os podemos discutir por essa altura. E quanto ao teu novo livro, felicidades!
P.S.:costumo dizer a brincar com a questão que "o DRACULEA Café Bar não será para todos os gostos mas só para as pessoas de bom gosto".
inspirador...
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