Evaporação do poeta na pequena sociedade do poema - um poema de Tiago Nené


















[ao poeta Victor Oliveira Mateus, com amizade]


para chegar a este poema
entrei em mim pelos pulmões.
neles tinha algumas palavras
que sempre esconderia
na literalidade final do que escrevo.
assim não aconteceu:
costurei a velocidade da paisagem
que antes seguia respirante
sobre o contorno dos olhos,
e em vez de aqui me afirmar
com o marcador somático,
protótipo imperfeito de palavras
cujo pulso e desordem ordenada
não se perderia tão cedo
e lançou outrora muitos poetas
de vísceras nos dedos cegos,
resolvi evaporar-me para sempre
no sangue vertiginoso, cheio e frio
que levemente ainda me corre fluido.
não para que me recordem,
mas para que me esqueçam.

Tiago Nené
in Polishop
(pré-publicação)

Post Scriptum: fiquei a saber que um dos poetas que mais aprecio vai lançar, ainda este mês, um novo livro de poesia. Não deixo de aconselhar o próximo livro de João Luís Barreto Guimarães, A Parte pelo Todo (Quasi).

16 comentários:

Marta disse...

Gostei tanto!
Mais. Quando cheguei ao fim.
Tudo. íssimo.

Anita Mendes disse...

"resolvi evaporar-me para sempre
no sangue vertiginoso, cheio e frio
que levemente ainda me corre fluido.
não para que me recordem,
mas para que me esqueçam"

Perfeito!
lindas palavras ! lindo poema!
saludos pra ti.
Anita.

Clarinha disse...

Uauuu..
adorei este lugar!!! ja está em meus favoritos..
belas palavras que numa sensibilidade incrivel me fez arrepiar...

Muito Prazer.

Vamos nos visitando..rs
beijos

Adriana Godoy disse...

Uma bela construção poética que certamente não o fará esquecido. Abraço.

Erica de Paula disse...

Querido Tiago,

Vim agradecer a visita e espiar o blog: adorei!

Já virei seguidora e estou te linkando lá!

És sempre bem vindo!

Meu bjo em teu coração!

Rounds disse...

hey man,

você sempre mandando bala!

linkei o texto-al no on the rocks.

abs

Tania Anjos disse...

Olá!

Inspirar a si mesmo... Oxigenar-se por inteiro até expirar em poesia, se dissolvendo no ar.[mas levando consigo paisagens...]

Foi assim que li teu poema.

Bem bacana, numa construção metafísica.

Belo trabalho, parabéns!

Abraços,
Taninha

Sue disse...

Muito bom. Gostei mesmo. Parabéns pelo blog.

Volterei.

Abraços

Sue

António Cortesão disse...

Parece que Tiago Nené já é a febre no Brasil.
Ou talvez seja um tipo de febre do Brasil.

Whatever...

Acho maravilhoso como a capacidade de ser bajudalor deste poeta atinge picos nunca antes verificados. Razão tinha o Fialho...

Maria Clarinda disse...

Obrigada pela partilha! Adorei!Jhs

Germano Viana Xavier disse...

Belíssima elaboração.
Poema-ponto.

Abraço forte, camarada.
Continuemos...

Texto-Al disse...

obrigado pelos comentários de todos.

obrigado também ao António Cortesão, pena a o anonimato... mas isso já estamos habituados, não é?
o estilo é, contudo, inconfundível:)
a última frase parece colocada para dar força ao texto:) ou será antes para distrair o leitor?

Tiago (o palerma, o bajulador e o arrivista)

António Cortesão disse...

homem! pequei ao usar o nome do Henrique Manuel Bento Fialho para esta conversa e acredite que eu não sou ele, apesar de compreender (estive atento à doença terminal que assolou o insónia) a maneira como respondeu. Não leve a mal o meu comentário. Eu admiro muito a sua poesia e acho o Tiago um poeta muito bom (e olhe que não há muitos, principalmente entre os jovens portugueses) e que acrescenta sempre novidades àquilo que já existe (este poema é um bom exemplo). O que critico é só o seguinte: para quê perder o seu tempo a responder a comentários de blogs, muitos deles brasileiros? por este andar passa a ser mais conhecido no brasil que em portugal, homem! não seria mais proveitoso aproveitar o tempo para outras coisas?
pense nisso. continuação de boa escrita. espero pelos seus próximos livros, apesar de já andar perdido quanto ao nome do que pretende lançar este ano.

Texto-Al disse...

Caro António Cortesão,

Por mim vc pode chamar-se Henrique, como Luís, como Maria Augusta. simplesmente não me interessa.

faço os comentários que me apetece nos blogues que me apetece. ao contrário de si, faço-os públicos e de forma respeitosa. (convido-o a vê-los, se quiser até pode fazer um post sobre isso no seu blogue - se calhar n seria a primeira vez que faria posts desta natureza)

não quero os seus elogios para nada. fique com eles.

Tiago.

lunatiK disse...

Viva
obrigado pelo comentário, e pelos excelentes poemas que partilha aqui.
Quanto a uma colaboração gostaria muito, e sempre que necessitar de alguma imagem que tenha publicado ou alguma especifica não hesite em pedi-la, tenho muito gosto em cedê-la sem qualquer interesse monetário.
Cumps.
André

Victor Oliveira Mateus disse...

Tiago, só hoje reparei que me tinha
dedicado este poema. Agradeço-lho
publicamente. Creia que a amizade
é recíproca. Alguns poetas tiveram
a bondade (é esse mesmo o termo!)
de publicarem poemas que me foram dedicados: António Ramos Rosa,
Alexandre Bonafim, Henrique Manuel
Bento Fialho, Ulisses Duarte,
etc. Daí este pedido: será que me pode enviar o poema por mail? Gostava de o ter. Obrigado!
Um abraço.