Acto II - um poema de Sylvia Beirute














ACTO II 

{ao Adriano Narciso porque} 
Quando morrem pessoas / as ervas crepusculares nascem
da sua memória, / descem até nós,
roubam-nos água dos olhos

só depois do corpo todos os actos são livres}
alguns eternamente livres}
outros sempre o foram} alguns não inteiramente}
outros, nascituros, nascem}
alguns, concepturos, regressam}

talvez um outro corpo nasça através
da prisão-corpórea do acto}
talvez um acto iniciado e não consumado {e depois exaurido}
ajude à continuação de um início paralelo.

mas talvez só o último acto seja livre e ainda caminhe magro
num caminho infinito e itinerante} depois da
respiração mordida } da hélice do coração -
{depois do corpo
como todos os actos intensamente livres.}

inédito

fotografia de Paulo César

2 comentários:

nydia bonetti disse...

que imagens intensas, que beleza de poesia. grande poeta, sylvia.
abraços

Adriano Narciso disse...

Muito obrigado pela atenção ;)