Pragmática do Silêncio

[Para ti, que existes nos meus vazios. tantas e tantas vezes.]

Para escrever-te não preciso de quase nada.
Basta-me entender que és essencialmente o vazio.
Entender que, tal como as casas,
Também nós nos vamos construindo.

E os tijolos pesados, tantas vezes.

Os tijolos a ferir-nos as mãos,
Os tijolos a cair nos pés como grilhetas,
Os tijolos como palavras atiradas para o meio do caminho,

Os tijolos. Pesados.
Como as palavras.
Tantas vezes dispensáveis, tantas vezes inúteis.
Como quando apareceste.
As palavras a fugir-me por entre os dedos das mãos,
A deambular na inocência de um olhar que se perde, que se perde sempre.

E da vida, ficam apenas os vazios.
Os espaços onde nenhuma palavra consegue entrar.
Os espaço onde nenhuma palavra poderia entrar.

- Mesmo que quisesse?
- Mesmo que quisesse.

Isa Mestre

1 comentário:

Sophia disse...

Há palavras para algo tão belo? Às vezes pergunto-me como conseguimos escrever coisas tão belas num mundo como este está, mas conseguimos, escrever e sentir coisas tão belas. Parabe'ns :)