Freud e Pavlov

Era um sonho e havia neve.
Podia ser Moscovo ou Faro ou Nairóbi, não importa,
neste sonho a neve é uma constante.

A paisagem era frio baço
jaziam crianças roxas e gatos voláteis
todos recostados no chão,
Altivos como os mortos conseguem ser.

As pessoas dançavam muito
Tango ou bolero, dançavam para não morrer de frio.
uns até eram péssimos dançarinos
mas ninguém se ria deles
(houve até quem chorasse perante a efemeridade do
rubor das caras)

na cidade, difusas
as ruas esvaziavam-se de sentido.
Os cães que pairavam de poste em poste uivavam
mijavam-se com saudades da cegueira de bebé
do tempo em que sugavam tetas e batiam com os focinhos nas paredes.
A lua lutava por dentro e em cima das cabeças de todos,
exercia sobre nós uma força titânica
resvalava como terra num ruído metálico e
esquecíamo-nos dela
e do frio
quando lhes virávamos a cara.


Adriano Narciso

1 comentário:

Isa Mestre disse...

mais um com a qualidade a que já nos habituaste...muito bom!