Amar é

amar é resistir ao dia seguinte
à superfície da manhã
à subida dos impostos
ao daltonismo dos hábitos implantados
à união europeia
ao trabalho sujo nas minas
à corrupção
à febre das ilhas isoladas tremendo
às flores bicolores envaidecidas
aos sonhos dos peixes grandes
ao silêncio da janela perdendo a paciência
às pessoas que vivem dentro das paredes
às gargalhadas dos caracóis
aos vizinhos submersos em demência.
Amar é resistir a nós mesmos,
Amar é resistir a tudo.

4 comentários:

Anónimo disse...

Estou a ver que a história dos caracóis está a tornar-se em algo recorrente na vida deste rapaz!!
Será algum trauma!! :P

India

Vânia disse...

LOL

Isso não sabemos. Pode não ser na vida do poeta, mas sim na vida de alguém que ele conhece, ou que imagina...

Em todo o caso creio que haverá qualquer coisa que o perturba... ;)

Anónimo disse...

Quanto aos traumas não sabemos, mas com Maio a um mês de distância... os caracóis que se cuidem... Vão já as cervejinhas para a arca frigorífica!
Ah e fica a promessa de passarmos cá mais tarde para deixar uma caracolada!

Anónimo disse...

"O momento do caracol" (excertos), de Pierre Alferi, traduzido por Fernando Pinto do Amaral:

Para fazer esta experiência
coloca-se no cimo de uma bola
a flutuar numa bacia
um caracol da Borgonha
que mantemos em reptação
no lugar através de uma pinça
fixada na casca. Depois
fazemos oscilar-lhe sob o nariz
um curto pau horizontal. Ao ritmo
de três vibrações por segundo
o caracol fica na bola. Ao ritmo
de quatro por segundo
lança-se porque o pau
para ele está imóvel. Assim
o belta splendens prepara-se
para a luta quando distingue
trinta vezes por segundo
a imagem de um congénere.

(...)

É-nos permitido concluir que o tempo perceptivo
de um caracol se escoa à cadência de três
a quatro momentos por segundo.