Passo a reproduzir:
Vá lá, admite-o. Escrever dá-te uma tusa do caralho. Admite-o. Dá-te uma tusa do caralho passares o dia inteiro a pensar no que vais escrever, ansioso que o momento chegue, ficares até um pouco obcecado com isso, como se mais nada importasse, e depois venceres essa ânsia até teres ali à tua frente uma folha em branco, virgem como uma cama acabada de fazer. Dá-te uma tusa do caralho escrever quando escreves bem, quando passas a mão pela página e já lhe conheces a pele, quando sentes as palavras como um corpo e, perante essa presença, todo o teu sangue se amotina. Dá-te tusa quando sentes que a página pronta para ti ao encostares o teu corpo ao corpo dela e também quando ela te obriga lutar por ela e te deixa quase à beira da loucura.
Mas sobretudo amas escrever quando a caneta flui pela página e tu te perdes um bocadinho, quando é a história que te agarra e te puxa mais para dentro dela, quando a vês pedir-te com os olhos que, por favor, a leves até ao fim e tu empenhas tudo o que tens em ti, músculo, coração e alma até que a vês gozar na última frase e gozas tu também. Admite-o. Amas escrever quando consegues diluir-te nas palavras e ser mais do que tu e menos que tu ao mesmo tempo. É isso que te dá tusa e é isso que amas. Tanto, tanto, tanto que o mais normal é que fiques ali abraçado à história que escreveste até que a exaustão te vença ou até que voltes a encontrar em ti forças para mais um ou dois textos, antes que amanheça.
[tn]
1 comentário:
é contagiante.. :)
excelente, como sempre.
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