Protocolo - um poema de Tiago Nené
















PROTOCOLO

kyoto, pulmões de ferro,
picar o ponto a:
delírios minúsculos,
seguir a linha dos pássaros,
feridas dissemelhantes,
ruas emparedadas no interior
dos teus canais,
aproximações da inocência,
distância entre sangues marítimos,
respiração húmida do beijo frondoso,
óculos de um gandhi-flipper
ficcionado num olhar
que ainda caminha,
cintila numa cor oca
de clarividência irresponsável,
evidencia a árvore íntegra
por cima do teu lábio
fazendo o mar ciciar
nos pulmões de ferro,
na tua cabeça livre,
no teu suave azul solúvel
gotejando isenção,
libertando substância subtil e dúctil
das coisas meramente ténues,
essas coisas, esse hábito volúvel,
esse protocolo
fragilmente feroz, fictício, nu,
flora no interior
do teu corpo ausente e frio.

Tiago Nené
(inédito - talvez apareça em Instalação, a publicar em 2009)

5 comentários:

Adriana Godoy disse...

Um protocolo que eu assinaria com prazer. Abraço.

Arábica disse...

Texto.almente perfeito.


E quem sabe, um dia, a visita?


Obrigada por teres dado a conhecer.

Anita Mendes disse...

"ficcionado num olhar
que ainda caminha,
cintila numa cor oca
de clarividência irresponsável"

as vezes, vê as coisas com clareza
e registra-las ao mesmo instante é uma "tarefa" um tanto burocrática.

Belo poema! muito bom passsar por aqui.
saludos, Anita.

Adriana Riess Karnal disse...

Belo poema, como diz minha xará, assino embaixo!

Unknown disse...

Quanta profundeza!!!!!!!!

Parabéns!

Beijinhos,
Ana Martins