Ar sem garganta.
Nariz inerte deserto.
Dissolvemos o açúcar em água quente como o
crematório dissolve corpos.
Pessoas-vapor voam pela chaminé
sem asas voam sem serem anjos (porque dos anjos nada se sabe;
eunucos não falam).
A inércia é detida pelo acto da ebulição,
pelo osso que agora é pó, pela boca que é tudo menos palavra,
que é ar,
que é breu,
que é chaminé,
que é voo. Que não é material humano.
Porque homem não voa senão na morte.
E já não sendo homem é natural,
sem roupa,
sem boca,
sem nada senão o pó de uma sala que se limpa
e se esquece.
somos
matéria com validade para a lembrança.
Souvenir que começa no falo e acaba na chaminé fálica.
Somos sacos que carregam tumores como quem carrega frutas em sacos.
Tísicos seres plásticos que crescem e se transformam em ar
de chaminé.
Adriano Narciso
6 comentários:
somos nada.
abs
Beijo e bom início de semana
Há um prémio Lemniscata para o Texto-Al, no blogue Fio de Ariadne.
Parabéns pelas interessantes publicações, sobretudo pela excelente poesia!
Ana Paula
O que somos, my God.
:)
Beijinhos.
Surrealismo que fascina...
Bjs
Chris
fascinante escrita!
beijos
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