Psicose no metro.



Inalo parado,
Restos do perfume
Que deixaste.
Fermento-o na minha
Consciência doentia,
Lembro-me de ti.
Por vezes sinto-o,
O meu corpo,
Deslocando-se por
Entre uma espiral
Sem fim e que me
Nauseia os sentidos.

Tomo o café,
Visto o terno,
Saio à rua.

Apático.
Confuso.
Pontual…
Aguardo preso
Numa inquietude
De espaço comum,
Pelo metro que não chega.

Consumo
Cigarros de ideias
Enterradas e mergulho
Calado num plano
De realidade virtual.

Ânsia,
Desespero,
Saudade…

Sentado num banco
De agonia, procuro
Impaciente por ti.
Investigando nas dezenas,
Talvez milhares, de faces
Femininas que se estendem
Pelo corredor depressivo
Do metro.
Procuro sinais de ti.

Olhos,
Bocas,
Testas,
Corpos,
Tiques…

Tons,
Nas vozes de anónimas
Que, desconhecendo o real
Valor da tonalidade, a desvalorizam,
Gastando-a em clichés de
Diálogos sem sabor…

Nada.
O metro chega.
O silêncio ganha forma.
Os corpos perdem-se
E todas as faces se vão,
Levando consigo o
Aglomerado de esperança
Arquitectada na minha
Cabeça.

Levanto-me
E, num compasso
De lentidão, entrego-me
Ubíquo e
Doente,
A uma carruagem
De recordações.

E é numa cadeira
Vandalizada que encontro
Alguma paz,
Partilhando com ela
A carência de um
Fragmento que nos
Afasta de quem somos.

E nas janelas,
Interrompendo a escuridão
Dos túneis,
Emerges…
Expeles sarcasmo,
Sorrindo para mim.
Talvez por,
Nem no âmago
Da minha loucura,
Te ter conseguido encontrar
Quando queria…

6 comentários:

Emma disse...

gostei mesmo, muito! retrata tanto..
um beijo

Jacque disse...

Agradeço a vocês deste blog, por estarem seguindo ao meu´"Poética". Humildemente venho dizer-lhe que a mim, é uma grande honra. Somos todos aqui, loucos apaixonados pela escrita. Sigo este blog agora.

Um grande abraço,

Jacque

Isa Mestre disse...

Pedro, há uma essência que me faz querer ler-te mais e mais...obrigada por isso.

Ruben disse...

"Inalo parado,
Restos do perfume
Que deixas-te."

deixas-te ou deixaste?

Pedro Rodrigues disse...

"Deixaste", assumo o lapso pedindo desculpas aos leitores. Obrigado Ruben pelo teu reparo, afinal todos os erros são significativos no que concerne ao correcto uso da língua.

Aproveito também para dizer que o erro já foi rectificado.

Abraço.

Brenda Maciel disse...

Eu pude sentir daqui a ânsia e a frustação, de procurar entre tantos rostos vazios, aquele unico e especial resquício amado.
: )