Epicentro

Perguntaste-me,
- Há quanto tempo não escreves?

Sorri.

Por dentro: o frio, o medo, a dor, talvez a tristeza.
Não sei.

Um incêndio a deflagrar em pleno inverno,
Uma borboleta presa nas mãos de uma criança,
Um terramoto com epicentro aqui, mesmo aqui.

Aqui onde nasço e morro todos os dias.
Aqui onde me disfarço sem que percebas,
Onde choro com lágrimas invisíveis e sorrio com palavras breves.

O sismógrafo cada vez mais agitado,
O coração a querer morrer, lentamente, nessa valsa de amor e ódio,
E depois disto, só as palavras, apenas as palavras.
(- Sinto-me vazia.)
E o ar a encher-se novamente de parágrafos sem que consiga agarrar nenhum deles.

Isa Mestre

2 comentários:

Pedro Rodrigues disse...

Bonito, muito bonito Isa. E intenso, intenso como o bloqueio que nos impede de espelhar cá para fora tudo o que nos aflige e que acolhemos no silêncio de nós próprios.

Texto-Al disse...

adorei:)

mt sentido, Isa. estás de parabéns.

Tiago