Um poema de Sylvia Beirute - Paisagem

















PAISAGEM


Escuto sem margens a melodia do rio. /
Na noite existe um canto líquido /
sementes que ardem nas línguas dos rouxinóis.

Catarina Nunes de Almeida


paisagem representada subjectivamente com enxerto 
de desabrochamentos mutuamente interceptados:
a repercussão deste abraço não é tão intensa como
espremer uma laranja até à última gota, assim como
um beijo apenas despede um rosto de uma boca
ou uma boca de outra boca.
      {bebo as cápsulas do tempo, o perfume está morno,
e estas palavras nascem da rouquidão do silêncio,
os olhos chicoteiam paisagens pálidas
e aqui discutimos como confiar no instinto
do que acabámos de inventar.
      voz baixa: {e espreitando pela mentira vejo a verdade: 
os lugares  existem repetidamente 
e consultam os mapas actualizados antes de acontecerem 
uma e outra vez.}
      voz alta (de novo, como principiou o poema):
{os poemas não são livres enquanto as suas palavras
o não forem.}
      FALTAREI AO POEMA
A INDIVIDUALIDADE NUNCA É AUTÓNOMA
e tu podes, na mesma, escrever um poema, (é claro),
      voz baixa de novo: {cuidado porque há mulheres dentro 
de acepções ambíguas, e o sítio justo do significado 
está-lhes na coxas escaladas 
com os passos dos músculos do seu sorriso,
e as saídas estão justapostas a soluções, ainda
que sejam, claro está, coisas distintas}
      voz alta (de novo e retoma a voz alta anterior, daí
a vírgula depois dos dois pontos) : , um poema
sobre a escuridão parda na vertigem dos anos,
um poema autenticado porque tu tens o dom de ter um nome,
um poema cuja tristeza entreversos
está {envolta em tristezura contra mundum.}
e então estará cada vez mais escuro
porque o avançar dos anos, sobre o
medo inadequado, é fundo e às vezes profundo,
e haverá sempre {um lugar instantâneo em cada destino
porque há uma consciência intrínseca e mínima
nos lugares que chegam
e uma terra onde plantar o rosto.}


inédito

2 comentários:

EDUARDO POISL disse...

Vim pedir desculpa pela minha ausência no teu blogger mais como havia um feriado e trabalho com turismo ficou difícil, mais agora com um pouco menos de trabalho volto a normalidade.

"O que diferencia uma pessoa de outra é o seu imaginário, a interpretação que dá aos fatos da vida." (Tisuka Yamasaki)
Abraços com muito carinho

gilson figueiredo disse...

bacana o blog & os poemas: quero descobrir a poetisa também, a pessoa, a persona, a cara. tem msn?

danke!