Mulher e moça. Poema inédito de Gavine Rubro

Lá vai a pobre moça,
De pé descalço sobre a poça
Buscando água a uma distante fonte
Cozinhando muito nova, se não, é posta a monte.

Ali ia a moça,
Casada muito cedo, mãe ainda mais
De filhos que tais,
Valor não lhe dão, num interesse mais que burlão.

Aqui está a mulher,
Velha, viúva, turva, com pouco ângulo de curva
Disfarçando-se sentada na calçada
Comendo o peixe de dois dias ou cortando pão em pequenas fatias
Nas apatias com que ela vive o tique-taque dos dias.
Veste-se num vestido de nome estagnação
Colorido sobre uma pele onde o cigarro é segurado por sua mão
Corpo idoso a preto e branco mascarado por uma relaxada e vulgar, socialização.

Vai mulher, vai e fuma
Fuma esse teu cigarro deitada nesse fechar de olhos de pensamento
À sintonia com que os teus cabelos negros envelhecem pelo vento
Fuma, um dia falecerás sabendo que ao menos foste mulher.

3 comentários:

Aмbзr Ѽ disse...

um belo poema, belo discurso sobre o envelhecer. de uma forma delicada, sensata, feminina.

http://terza-rima.blogspot.com/

Meg disse...

É a inspiração da musa que nos leva a usar as palavras,mas é a experiência real que nos empresta as letras...Um abraço, boas férias
Meg

Gavine Rubro disse...

Contente pelas apreciações de ambas. E um privilégio de ouro poder estar entre tão bons esritores contemporaneos do Algarve, assim como a hipótese a uma partilha e divulgação mais aberta da minha arte. Grato, comentem mais vezes. Cumprimentos enormes