Poema de Adriano Narciso - Fotografia de Jan Saudek
Fotografia de Jan Saudek
Corpos deitados são quadros que
não foram pintados, gatos que ágeis
interrompem a vigília e saltam para o sono.
São pinceladas de vácuo numa câmara escura,
linhas de uma fotografia desbotada.
Corpos que irrompem e atentam em ancas decididas,
movimentos em elipse que extasiam.
Explosões,
Implosões que engasgam e tiram ar,
retribuem com o sangue pulmonar aéreo,
que sai pelo nariz e evita a queda,
levita.
E o ar é encarnado como rosas,
encarnado como os caules agressivos das rosas.
Olho os corpos e vejo ancas e elipses e gatos
que de tão puídos vivem outra vez.
Vejo mesas com frutas,
árvores que nascem da madeira da mesa e rezam a Deus
enquanto as ancas e as pernas e os gatos choram
pelas vidas futuras.
E todos são corpos,
todos entidades que cheiram a terra, e a ar,
e a sangue.
Adriano Narciso
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1 comentário:
Desde que os corpos não estejam deitados na morgue, claro...
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