No Café


Chego e entro.
O café e a empregada jazem no mesmo sítio.
Mudos,
Suplicam por mim,
enchem as pupilas nauseabundas de luz
ao verem-me ser cliente.

Sento-me no lugar da cadeira.
não se incomoda e dá-me as boas vindas
de quatro.

Cheiro o ar e sou pulmão
do café, respiro por ele.
depuro

Chega a mulher, arrasta-se, exaspera,
reza pelo pedido com olhos moles
que parecem beatas no chão.
Consumida.
:
-um café e um pastel (s.f.f.)

(traz-me tudo aquilo como se traz uma hóstia,
como quem crê na salvação através da comida)

Bebo, como, leio Dostoievski
e a mulher arrota por mim. Alegra-se por ser miserável.
Se lhe pedisse, vomitava.
:
-A conta se faz favor.
Pago, saio. sou
metástase

Adriano Narciso

4 comentários:

Anónimo disse...

bonito...mx a última palavra faz m lembrar cancro....


;P

Adriano Narciso disse...

cancro... é o que somos quando nos deixamos levar pelos valores, às vezes contrários aos nossos, da sociedade

continuando assim... disse...

e é cancro mesmo ... ou a continuação dele ..... :)

gostei!

Adrielly Soares disse...

Gostei das coisas que você escreve, com certeza voltarei.
;D