Taxonomia - um poema de Tiago Nené




















TAXONOMIA

a verdadeira taxonomia dos géneros
remete-me para a obra de ilmar laaban,
rumores claros ao arquivar o som.
e eu escrevo,
os vizinhos queixam-se da minha autonomia
e independência sonora,
do modo como bato os ovos
e concebo uma omelete de som e cassandra.
algumas pessoas circulam em mim
descalças com os pés na água índigo,
preocupadas com a estética
de um discurso ilógico sobre os bunkers
de uma identidade ocidental,
pessoas experimentais
que discutem a feminilidade em silêncio,
não entendendo nunca o papel
da tecnologia na poesia, o seu mestrado
sobre a memória contemporânea
dos meros corpos, e o elo perdido dos
vanguardistas sem contextofobias
porque os seus diplomas arderam
noutros obstáculos biográficos.
i must be free now i must be free now
and should not hesitate

i should go now but instead
instead
instead there's i mean
há um século xxi por ensaiar
e um futuro neo-determinista
a colocar de costas
para a minha performance pletórax.
e eu bato, continuo a bater os ovos
até ver uma gueixa a tocar shamisen
e eu mato, uso-me comparativamente,
doo-me como um revólver quente,
e eu morro, e eu escrevo, e eu sinto.

Tiago Nené
inédito

1 comentário:

Osvaldo disse...

Caro Tiago;

Este bela "Crónica de Bater Ovos", tem muito de inteligente e que nos leva à reflexão do tanto que a literatura nos pode oferecer.

Gostei, porque é um estilo que não nos pode deixar indiferentes, quer se goste ou se deteste.

como gostei, vou voltar para ver os "próximos capítulos",...

Um abraço,
Osvaldo