Amor é ficção que nos toca

Não me sinto bem em lado algum
tenho na pele o toque
e o beijo
de quem não está aqui agora.

Pronto,
não sou nem quero ser feliz
não tenho rosas na mão
nem a consciência de petiz.
Não sou, nem quero, ser feliz
não sou e quero
ser menino,
quero ser hino
ter em mim a clara visão do mundo, ser
em todo o lado alguma coisa,
ouvir o meu nome na boca de alguém
(a língua a fazer uma ginástica familiar)

Gostava de ser alguém
alguém para alguém,
Ser ao menos um cão para um cego,
Ser a planta que rego sempre
convicto de que o amor se estende conforme a água.

Queria ser uma pessoa no teu mundo particular,
Pessoa arcaica, pessoa que é importância por ser pessoa.
Nada a não ser a presença, só pessoa,
Ser.

Não me sinto bem em nenhum lado
Não me sinto um lírio num prado. E tanta água. Sol. Pétalas de lírios
a tocarem-me.

Nem comigo,
só em mim que seja, me sinto gente
e tudo o que toco é uma morte iminente
tudo o que sonho é gente que conheço,
gente que me move;
acordo e quero voltar a sonhar,
pesadelo que seja:
para mim isso bastava: uma cama, uma almofada
e sonhos, contos de fadas. Suores frios.

1 comentário:

Angela Ladeiro disse...

Amargura? Medo? A vida vai trazer tudo o que deseja. Vai sentir-se bem e feliz, pelo menos alternando... com outras coisas... é mesmo assim, viver.