Bailairina-Themis



Dias existem em que não sei escrever e em que gostaria de saber desenhar...Muitos dos quais são passados frente ao computador, esse infernal apêndice ...Por entre as obrigações, há momentos em que a divagação se ergue e surgem coisas como esta ( feito no paint e com o rato...).


Themis

FIM



O texto-al foi um projecto muito interessante que começou comigo, Tiago Nené, Salvador Santos e Luís Ene no início de 2008. Houve coisas muito interessantes, houve partilha, amizade, respeito, e um sentido de crescimento em comum. Infelizmente o tempo não lhe resistiu e pouco a pouco lhe foi marcando um fim. Escrevo este post para agradecer a todos os que contribuíram para o texto-al e fazendo votos para que mais projectos como este nasçam pelo Algarve, dando voz à qualidade de escritores e artistas desta região.

Despeço-me, em jeito de homenagem, com um poema que escrevi para um poeta recentemente falecido, Rui Costa (1972-2012), com quem tive o prazer de conviver.

OFÍCIO

Para o Rui Costa,
Para Sempre,
Com Amizade

foi breve o acordar por cima da idade,
o ofício da vida desviou o coração
para o prolongamento etéreo
onde inventarás um novo caminho
onde não existirá uma nuvem prateada
sobre pessoas graves.
e eu falo contigo agora,
agora que o papel te pressagia,
agora que o âmago afunda no instinto
das pequenas coisas,
agora que os materiais não resistem
à tua habituação cintilante e eterna.
um dia li a tua mão, escapando-se-me o corpo
(perdi o corpo)
mas cresci no silêncio,
suspendi o meu multidestino de leitor,
errei na extensão das tuas palavras.
e hoje volto ao primeiro momento,
ao fulgor da primeira leitura,
exercício inaugural da diferença
entre o frio e o quente,
e não deixarei de sorrir.

Tiago Nené
(19.01.2011)

Hoje


Hoje
Hoje o dia, presente,
brilhante de escamas, suave.
Perdida dele em milhões de finos grãos
transportada desse leito à sua presença.
-
O que me seduz é essa força da natureza
(sonhei com ela)
que arrasta consigo uma profunda e admirável convicção.
O modo como sabe, simplesmente sabe, aquilo que é.
um beijo - diz - e eu que sou só dúvidas e questões
ansiando a simplicidade
talvez adormecesse aí.
- não irei resistir por muito tempo -
porque resisto?
a quem me prendo?
o que temo, afinal?
-
A praia não é, agora, mais que um navio de carga
transportando um incessante fluxo humano
suspiro, estava exausta de tudo
-
No interior, quente, povoado de insectos
Sentada na mesa de ferro do pátio limpo de folhas secas
como quem realiza um ritual sagrado
arregaçava as mangas duma camisa branca
impecavelmente luminosa.
Puxei a cadeira ao lado e sentei-me
(houve espaço e houve tempo)
- descansámos num único silêncio cheio de abraço -
( um pouco mais à frente e veríamos as mágicas obras
do Souza-Cardoso, formas arredondadas e esguias, tão próximas )
-
Regresso
uma estrada de trivialidades
rasgada no coração dum pequeno monte
vejo a nuvem de poluição sobre a cidade
sempre lá, como um valor seguro
entrego o bilhete, pago o meu preço
no lugar da intimidade, reservo a intimidade.
-
grata por essas mãos que derramaram ternura sobre mim
ainda flutuava nesse suco doce e espesso
ecos líquidos de olhos fechados e rosto iluminado
Viva, mais um dia,
o dia de hoje
Hoje.


Apresentação de "Amar em Círculo"

A apresentação do meu romance, Amar em Círculo, será dia 8 de Julho (próxima sexta-feira) na Biblioteca Municipal de Faro, pelas 18h00. A apresentação estará a cargo do Elos Clube de Faro e o livro será apresentado por Dina Ferreira. Recordo-vos que para além da edição em papel o livro vem acompanhado de um audiobook lido por Afonso Dias. Conto com todos vocês em mais um dia importante como este!

Entrevista de Isa Mestre à ALGARVE MAIS

Já nas bancas, na Algarve Mais deste mês a entrevista com Isa Mestre, membro do texto-al.



Manual de Sobrevivência,Tiago Nené























MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA

[ensaio sobre celebridades]

com as rugas escondidas de uma distância esticada,
o útero mudo, uma língua fóssil, a emoção mortífera.
o seu fruto é frígido, o seu todo tem as partes por unir.
as alíneas do seu índice são duvidosas e a música
que lhe enche o quarto é de vinil branco. o seu
tempo não tem a densidade que o nome exige,
apesar de ninguém o saber. dos seus olhos saem
porcelanas, o seu inverno é subterrâneo, a sua história
conta-se por carta. no seu exílio conheceu gente
que traduziu goethe e hölderlin e lhes acrescentou versos
por graça. os seus erros nunca couberam dentro de versos
porque o seu coração sempre mudou com as novas
grafias. nunca ninguém colocou um dedo que fosse
nas suas feridas porque sempre as soube esconder
fora dos locais do rosto. o seu sigilo tem a duração
do olhar, e este, sem distinguir planos, descontinua
a discrição dos movimentos dos outros. o seu infinito
oscila na memória inconsciente, a sua água é
vaporizada com as sombras do corpo contra a luz
quente. o seu alheamento é um pequeno subúrbio
onde os carros não passam e o passado das pessoas
que lá vivem fica na grande cidade. a sua imaginação
é solitária, a sua razão sempre extirpou a matéria fluida.
as suas pétalas são autónomas em relação às flores,
as suas cores envelhecem como se por esse facto
deixassem de ser úteis. a partir de certa altura
a sua natureza torna-se sonora e inexprimível, e
as suas obsessões são indefesas e frágeis. rilke
um dia escreve-lhe uma carta que veio devolvida
e nela constava um poema escrito à mão e pingos
de suor nocturno. todos os seus princípios eram
oficialmente os seus fins, e o silêncio do público
estranhamente o fazia notar ainda mais. até que ela
morre, morre mais do que a lei da vida, e o seu abismo
continua exuberante. apesar de ter vivido uma vida
corrosiva, ela permanece como um protótipo, porque
as pessoas não vêem as pequenas coisas, porque as
pessoas não se revêem nos equilíbrios, porque as pessoas
parecem sobreviver quando alguém morre, porque
as pessoas apenas sabem ver ao longe.

Tiago Nené
em "Polishop"
Punta Umbría, 2010
Colecção Palavra Ibérica
Bilingue
Tradução de Santiago Aguaded Landero
Prefácio de José Carlos Barros

* Na foto o poeta António Ramos Rosa lê o livro de poesia "Polishop", de Tiago Nené 

 

António Ramos Rosa

Sempre falaram alto. Muito alto. Demasiado alto. Todos exemplares e eufónicos, erectos no seu convencimento, na segurança de si, no excesso da personalidade e da expressão. Ouvia-os e não os ouvia, ficava mudo e adiado, admirando-os, invejando-os, anulado definitivamente sem o horizonte de uma palavra. A sua sabedoria era veloz, eléctrica, transbordante. Vozes não eróticas, não silenciosas, não pedestres. Vozes, vozes de ébria sapiência, de chaves e de risos, clamor de evidências. Não os oiço já e continuam sempre, velozmente vitoriosos, incontinentes, insuperáveis. Eles continuarão mesmo depois da minha morte. Mesmo quando a sombra cai, eles continuam o seu discurso fluente e soberano. Onde quer que estejam, falam sempre alto, senhores de si, senhores de tudo. Poderei eu alguma vez dizer uma palavra? O seu discurso anulava-me, eu nunca tinha uma palavra a dizer, a não ser a que ainda seria uma continuação do discurso deles, uma excrescência de mim próprio. Porque eu admirava-os como modelos e queria integrar-me no seu sistema, queria ser como eles, um deles, um senhor também.

Excerto daqui.

António Ramos Rosa
in Prosas Seguidas de Diálogos

Apresentação Livro António Ramos Rosa - «Prosas seguidas de Diálogos»



A Linguagem de Cálculo - Associação Cultural fará o update da exposição com desenhos de António Ramos Rosa, no âmbito da qual o livro será apresentado.

Victor Oliveira Mateus e os poemas de "Regresso"






















Partida

Quando parti ninguém apareceu à beira da pista.
Quando parti as viagens eram coisa simples e banal,
e não este desejo de procurar um sentido para
a mágoa, uma clareira para a ausência, uma fonte
- minúscula que fosse - para saciar aquilo que
se mantém ininterrupta sede. Quando parti estavam

todos atarefados a viajar; mas de outro modo -
voracidade de prestamistas, esbugalhados olhos
onde o tempo é tão transaccionável, quanto um futuro
hipotecado ou uma mera jante enferrujada. Quando
parti tiveram logo o cuidado de me avisar que a poesia
nunca salvara ninguém, que a procura das raízes

(bem como o entendimento de um passado não
acontecido) era coisa tão ridícula quanto obsoleta
para o riso alvar de muitos. Quando parti a buganvília
da moradia em frente estava esplendorosa e havia
um gato a furar a rede. Quando parti uma mulher
no prédio ao lado sacudia um pequeno tapete.

Acenou-me. Sorriu. Quando parti imaginei
o escárnio deles, os telefonemas duns para os outros,
as conversas. Quando parti ninguém apareceu
para se despedir; havia apenas: eu, um objectivo
incerto, o teu rosto a reflectir-se ao longe
e o sol a dar de chapa nas vidraças.

§

Desabitada presença

Na foto ela está sorridente. Ar inocente,
conseguido. Ele também, triunfante e
pose a condizer, embora presa de presa,
mas sem o saber. Outros iguais nas mesas
vizinhas - esperam a hora para descer

aos bares. Pelo tamanho e pela feiura
reconheço o local - a Piazza Vittorio. Sempre
a detestei! Reconheço até a esplanada,
que constantemente evitava quando ia para aqueles
lados. Na foto lá estão os toldos branco-

-sujo a cobrir as mesas, as cervejas, os sorrisos.
A um transeunte foi-lhe roubado o espanto,
fixado naquele pedaço de papel sem brilho.
Debruço-me para dentro da foto, mas não
me vejo. Contudo, tenho a certeza que estou

ali - certeza inquestionável, sem dissimulação
nem álibi. Talvez esteja no interior de um carro,
à porta do café, na inquietação de um qualquer
pensamento. Mas não, não me vejo! No entanto
- e repito - tenho a certeza que estou naquela
foto, que reproduz um encontro a que não fui.

§

Deambulação e fuga

Agora não. Agora esta impávida frieza a descer
as ruas. Este esmorecer da tarde nas aprazíveis
fachadas barrocas. O alinhamento das mesas,
sob as arcadas, ostensivamente esperando o nocturno
tumulto de nada. Agora as lojas, as rasgadas
montras, o néon. Agora o meu intento difuso -
tantos anos depois - a enviesar a rota para um encontro

de mim. Inevitável encontro (sem modas nem
circunstâncias) à revelia de tanta e tanta coisa,
sobretudo da memória; pegajosa fuligem a enegrecer
um desejo já morto, fantasias que também tive,
tão ridículas quanto inúteis. Agora eu - apenas;
esta alegria recuperada sem abastardamento
ou traiçoeira amarra sibilinamente a infiltrar-se,

como outrora. Eu a prosseguir, a saborear a Via
Roma no escondimento de passagens outras,
longínquas... Na Piazza San Carlo, Emanuel Filiberto,
de cima do pedestal, parece reconhecer-me. Ou talvez
enfadar-se. Nem eu sei bem! Santa Cristina, desta vez
sem as coisas dos restauros, oferece-me as portas
abertas com parcimónia. Mas eu fico - cruzamento

de cultos e sentires ao arremedo de mim. Fico
e a cidade acolhe-me como um imenso regaço,
um aconchego de vozes a incitar voos. Agora não.
Agora é tarde. Demasiado tarde. É tempo de te arrancar
à volátil orgânica da fala. De te excluir. De te
dissolver no ar como barca de vento à deriva.
E depois, após tão justo feito, regressar a casa
como se nunca nada tivesse acontecido.

Victor Oliveira Mateus
poemas da obra poética "Regresso"
editora Labirinto
2010

[cinco e vinte]

Normalmente não desisto das pessoas. Acredito em segundas chances. Sei que não se pode fazer tudo bem à primeira. Sei que nem tudo se deixa fazer bem à primeira.
Confesso que ainda cheguei a acreditar em ti, que não quis desistir logo. Depois veio o medo e com ele a raiva. O facto de não puderes olhar para ti fez com que tivesse medo que também eu, um dia, não conseguisse olhar para mim.
Tu ainda não sabes mas tens medo. E continuas com medo de ter medo mesmo quando já o tens.
Olhas-me. Procuras sempre as palavras que doem mais.
Não te contentas em ficar por ali naquela demonstração oca de insensibilidade.
Eu vim. Os outros ficaram. Já não acreditam em ti. Há muito que disseram adeus às segundas chances. Mas eu vim. E é precisamente por isso que me odeias. Porque não me deixo comer pelo medo, porque as palavras que te assustam não me fazem frente.
Para dizer a verdade gostava de puder gostar de ti. Gostar de ti com a mesma sinceridade com que gosto daqueles que não viram as costas à luta, dos que não são cobardes.
Dizes-me qualquer coisa sobre a pressão e eu penso como será dizer-te que quando me falas é como se te visses.
Nua. No meu olhar, na minha crítica, na mais simples observação.
Eu sei que tens frio. Porque as minhas palavras te despem e a ausência de outras te tornam cada vez mais só.
Não tenho pena de ti.
Repito. Não tenho pena de ti. Tenho vergonha de já não puder ou já não conseguir acreditar naquilo que és.

Isa Mestre

Coisas do Coração, Tiago Nené















COISAS DO CORAÇÃO

Como uma vasta verdade em parte incerta
A cabeça da imaginação faz
Transbordar os olhos, o coração que lhe
Responde em objecto de sono.
E nós começamos, incendiamos o que somos:
Também uma vasta verdade que é
Uma vasta concreção do espaço útil,
Visualização do copo silente ao alto,
Século que virá com as mãos por cima de nós
E os dedos em nossas levezas.
Amamos o futuro como uma verdade só nossa
Ou uma mulher de boca em boca.

Tiago Nené
poema inédito

de frente para o nada


No interior dessa superfície brilhante habita o perfeito afiado
capaz de desenhar um rio, forte e fresco com uma carícia
em cada sulco, pele, tubos de fibras e feixes venosos.
Depois descansa a cabeça nesse colo, pura memória
enquanto a dor afunda - toda ela - no mar vermelho
tornada leve tão leve tão leve ---
enquanto passa a hora lenta como a vida e um só sopro
enquanto embalas como um anjo a escultura viva
criada só de beijos só de paz só ---
tu, que vives mais à frente, sempre mais à frente, além ainda
por mais que corra nunca viverei esse tempo que nos separa
uma distância única esta nossa ---
extintas civilizações intersectadas entre planos paralelos
resultam num ponto - universo - sol e todas as estrelas
e de novo o nada onde começamos novamente
fingindo nenhuma intimidade nenhum novo perfume
exalado do passado de tanto esgotarem os corpos
só a estéril branca farda e essa máscara facial
li o teu recado resposta a promessa do meu silêncio
é tua como a cicatriz por dentro do amor
pouso o coração inteiro no agora
e atravesso a passagem de nível.

Migna Mala: Promo Video



Os Migna Mala são uma banda algarvia a que vale a pena prestar atenção pelo seu som único, com influências tão díspares como as canções tradicionais e os sons folcróricos.

Quem é Luís Nogueira?


Hoje de manhã, num certo processo em que defendo um dos arguidos, eis que me deparo com o seu relatório social, muito bem elaborado por um tal de Luís Nogueira. Sim, o mundo é pequeno, e parece que a literatura de Faro, talvez para combater o deserto, acaba de contaminar os tribunais.

[tn]

A todos os interessados: A cultura em Conferência, MC & UALG




«No âmbito do Plano Estratégico de Cultura para o Algarve (PECALG), uma iniciativa da Direcção Regional da Cultura, a Universidade do Algarve vai organizar, entre Outubro de 2010 e Janeiro de 2011, em várias cidades algarvias, um conjunto de ciclos de debate para promover a reflexão sobre as condições da vida cultural, os problemas, as dificuldades e as oportunidades que hoje em dia se colocam aos diferentes agentes e produtores culturais da região.



A iniciativa, que é aberta a todos os interessados, vai contar com a presença e a colaboração de vários especialistas nacionais.», in ualg.pt

Citação da semana nº 2

Manel Cruz
«Ser tão perfeito é ser só uma metade
E ninguém imagina o que te passa no fundo
É estranho quando dou por mim no mundo bizarro
E mais ainda quando lá o mais bizarro do mundo sou eu»

Pluto, excerto da canção "Segue-me à luz"

Homenagem a Carlos Paião, porque sim.

Sou suspeito para falar desta música, mas como não são necessárias datas especificas, venho por este meio prestar um tributo ao cantor natural da cidade de Coimbra, Carlos Paião, enaltecendo toda a sua musicalidade e poesia tão precoce e valiosa para o nosso país e cultura. Morreu cedo, mas a sua imortalidade está nas pessoas, nos discos, nos ouvidos e sorrisos de muita gente quando ouve algo que lhe é relacionado. Um bem Haja. Sou português, Viva a música e poesia portuguesa.


Carlos Paião: vinho do Porto.




Letra:

«Primeiro a serra semeada terra a terra
Nas vertentes da promessa
Nas vertentes da promessa
Depois o verde que se ganha ou que se perde
Quando a chuva cai depressa
Quando a chuva cai depressa

E nasce o fruto quantas vezes diminuto
Como as uvas da alegria
Como as uvas da alegria
E na vindima vão as cestas até cima
Com o pão de cada dia
Com o pão de cada dia


Suor do rosto pra pisar e ver o mosto
Nos lagares do bom caminho
Nos lagares do bom caminho
Assim cuidado faz-se o sonho e fermentado
Generoso como o vinho
Generoso como o vinho

E pelo rio vai dourado o nosso brio
Nos rabelos duma vida
Nos rabelos duma vida
E para o mundo vão garrafas cá do fundo
De uma gente envaidecida
De uma gente envaidecida


Vinho do Porto
Vinho de Portugal
E vai à nossa
À nossa beira mar
À beira Porto
À vinho Porto mar
Há-de haver Porto
Para o nosso mar
Vinho do Porto
Vinho de Portugal
E vai à nossa
À nossa beira mar
À beira Porto
À vinho Porto mar
Há-de haver Porto
Para o desconforto
Para o que anda torto
Neste navegar

Por isso há festa não há gente como esta
Quando a vida nos empresta uns foguetes de ilusão
Vem a fanfarra e os míudos, a algazarra
Vai-se o povo que se agarra pra passar a procissão
E são atletas, corredores de bicicletas
E palavras indiscretas na boca de algum rapaz
E as barracas mais os cortes nas casacas
Os conjuntos, as ressacas e outro brinde que se faz

Vinho do Porto vou servi-lo neste cálice
Alicerce da amizade em Portugal
É o conforto de um amor tomado aos tragos
Que trazemos por vontade em Portugal

Se nós quisermos entornar a pequenez
Se nós soubermos ser amigos desta vez
Não há champanhe que nos ganhe
Nem ninguém que nos apanhe
Porque o vinho é português»


Este tema musical esteve presente no Festival da RTP em 1983. Os trocadilhos nas palavras, as referências para o Portugal de então (muito actual a visão), recorrência a repetições para dar ênfase a determinado verso, a alusão a mensagens a favor de qualidades morais - tudo faz desta musica e de muitas outras deste cantor, um exemplo para todos. Quis partilhar convosco algo que gosto, simplesmente.
Cumprimentos literários.
G

Disco-mentira-estragado, um poema de Gavine Rubro.

blá blá blá blá
blá blá blá blá
blá blá blá blá
blá blá blá blá
blá blá blá blá
blá blá blá blá
blá blá blá blá
blá blá blá blá
blá blá blá blá
blá blá blá blá
blá blá blá blá
blá blá blá blá
Cof cof...
Sim sim sim sim
ahm ahm
Sim sim sim sim
ahm ahm

e isso tudo foi para dizeres
que vais chegar tarde?
muita justificação banal
equaciona em mentira-espelho igual.

Gavine Rubro

Sügar, um poema de Isa Mestre

[sügar]

Gosto de ti.
Mesmo que estejas longe.
Mesmo que não me faças rir.
Mesmo que a mota não apite,
Mesmo que o capacete não te caia,
Mesmo que nunca saibas onde tens de por os pés.
Gosto de ti.
Mesmo que não possamos comer pipocas.
Mesmo que me apeteça correr mil quilómetros para te dizer apenas:
sinto a tua falta.

Excerto do Livro "Os Passos em Volta" de Herberto Helder,interpretado por Pedro Lamares.

Aqui vos partilho esta relíquia, a escrita sublime e crua de Herberto Helder teatralizada por este Actor já conhecido por muitos. Valeu-me mesmo a pena, ler este livro e agora ouvir o mesmo vocalizado. Espero que valha a todos vós.

O Estilo.

Dueto entre Luis Ene e Gavine Rubro: O Poema



O Poema
{a contrução do poema no blogue do Luís Ene}
{Reflexão construtiva de Sylvia Beirute no seu blogue}
{Crítica d'O Homem Do Fraque}


foram esquivados os moldes do rubor dos dedos

a mão cortada da razão passeia-se livre

e no entanto é difícil

é sempre tão difícil

começar

esta tinta, das árvores ao manuscrito das linhas,

como se ziguezagueassem no colo das malas,

as interrogativas

rasgar

o silêncio da folha

pseudo-assassinar

os idosos cânones cépticos gramaticais, decrépitos

torcer hirtas, as sílabas

contra o opulento fundamentalismo da orto-cali-grafia

escutar

os lamentos os anseios as dúvidas

como se o mundo nos falasse

segundo o empenho das veias e do oxigénio

conforme a mão, o miolo desassombrado



como se o mundo nos falasse

e destilasse e atingisse e nos piscasse o olho

pela primeira e última vez



começar

e seguir em frente



pelo ensaio de dois punhados e um conceito



Insuportáveis são os não esforços, vãos

num dueto impossível



é difícil começar assim como é difícil

terminar

que o diga o Herberto Helder

...

o poema não tem

princípio nem

fim.

Gavine Rubro e Luís Ene.
Foi um prazer.
Poemas a duas mãos
são qualquer coisa de interessante.

vírgula ao centro, de Isa Mestre

Não gostamos de toda a gente. Que disparate. Seria impossível gostarmos de toda a gente. Não fomos feitos para gostar. Especialmente daqueles que nos apontam o dedo, que nos tornam a ruga do queixo um bocadinho maior a cada palavra. Não gostamos que nos contrariem. Somos soberanos. Mesmo que não o admitamos. Mesmo que sejamos sempre os mais humildes e os mais realistas. Somos também soberanos.
Não gostamos de toda a gente. E às vezes achamos que ninguém gosta de nós. Não nos questionamos sempre. Morreríamos se nos questionássemos. O ponto de interrogação dá-nos volta ao estômago. Preferimos os pontos finais. Mais seguros, menos voláteis. Os que acabam com tudo.
Por isso nunca me passou pela cabeça perguntar-te se podes gostar de mim, se podes sentar-te e fazer um esforço para gostar de mim. Não sei nada de especial, talvez nem possa mesmo ensinar-te nada de novo. Estou aqui. Apenas isso.
A lembrar-me de todos os que nunca podem estar. É deles o vazio que se segue. O da ausência de tudo. Ou talvez de nada.

Isa Mestre

Salon Del Libro Iberoamericano de Huelva























SALON DEL LIBRO IBEROAMERICANO DE HUELVA
II Foro Iberoamericano sobre Bibliodiversidad
Huelva del 5 al 9 de octubre de 2010


Martes 5
Casa Colón (Plaza del Punto, Huelva)
II Foro Iberoamericano sobre Bibliodiversidad
10.00h. Inauguración del Foro Iberoamericano sobre Bibliodiversidad
11.00h. Paneles Expositivos y Debate
“Redes y Alianzas de Editores Independientes Iberoamericanas”
Mª Luisa Martínez Passarge (México)
AEMI Alianza de Editoriales Mexicanas Independientes y Editorial La Cabra
Floriano Martins (Brasil)
Editorial Banda Hispánica
Antonio Vizcaya (España)
Feria de la Edición de Canarias, SIAL Salón Internacional del Libro Africano y Ed Baile del Sol
Silvana Tobón Cardona (Colombia)
Geocultura, desarrrollo sostenible
Uberto Stabile (España)
EDITA Encuentro Internacional de Editores Independientes, Salón del Libro Iberoamericano de Huelva, Encuentro de Escritores hispano-luso Palabra Ibérica y Aullido Libros


Casa Colón (Plaza del Punto, Huelva)
18:00h. Apertura del Salón e Inauguración exposiciones


19:00h. “Los perros siempre ladran al anochecer” de Andrés Pérez Domínguez (España)
(Premio de novela corta La Espiga Dorada)
Presentación de las bases del II Premio de novela corta “La Espiga Dorada”


20:30h. Cata de libros, vino y jamón.
“La efigie sospechosa” (Ediciones Andrómeda, San José de Costa Rica) y “Fuego en las cartas” (Ed Col. Palabra Ibérica, Ayto de Punta Umbría) de Floriano Martins (Brasil) con Mª Luisa Martínez Passarge (México)


Bar Cantalojas (Prolongación de la Avenida de Andalucía, Huelva)
23:00h. Muestra de Poesía Iberoamericana
Astrid Lander (Venezuela), Silvana Tobón (Colombia), Susana Giraudo (Argentina) Koldo Campos Sagaseta (República Dominicana) Manuel González Mairena (España) y Francis Vaz (España)




Miércoles 6
Biblioteca Pública Provincial (Avda. Martín Alonso Pinzón 16, Huelva)
10:00h. Encuentro con el Autor
Astrid Lander (Venezuela) presenta “Buen camino: hacia el camino de Santiago”


Casa Colón (Plaza del Punto, Huelva)
II Foro Iberoamericano sobre Bibliodiversidad
10.00h. Paneles Expositivos y Debate
“Redes y Alianzas de Editores Independientes Iberoamericanas”
José Angel Leyva (México)
Revista La Otra y Editorial de la Universidad Intercontinental de México
Antonio G. Villarán (España)
Festival de Perfopoesía y Salón de la Bibliodiversidad de Sevilla y El Cangrejo Pistolero Ediciones
Alejandra Peart (México)
Editorial Atemporia
Natividad de la Puerta (España)
A Fortiori Editorial


Casa Colón (Plaza del Punto, Huelva)
13:00h. Presentación de los libros de la UNIA (Universidad Internacional de Andalucía)
“Los flamencos hablan de sí mismos Vol. IV” de Manuel Curao
“Religión, género y violencia” de Juan José Tamayo
“La radiación solar: incidencia en la salud y el medio ambiente” de Benito de la Morena
“La disminución del contenido metálico en el proceso de compostaje de residuos sólidos urbanos es factible” de Mª del Carmen Gutiérrez Martín y Ana Belén Corredera Espejo


Casa Colón (Plaza del Punto, Huelva)
18:00h. Conferencia de Susana Giraudo (Argentina) “Las vanguardias del tango y la surrealidad”


19:00h. Mesa Redonda “Presencia de la literatura brasileña en España": Presentación de la nueva edición de Casa-Grande & Senzala de Gilberto Freyre, Guía de autores brasileños editados en español, y La Revista de Cultura Brasileña; con José Manuel Santos y Antonio Maura, modera Rafael López Andujar (Director de la Fundación Cultural Hispano Brasileña)


20:30h. Cata de libros, vino y jamón.
“Monedas en el agua de una fuente” de Susana Giraudo (Argentina) Editorial El Mono Armado
"Nuestras vidas son otras" de Roberto Castillo (México) Ed Aullido Libros & Nortestación


Bar Cantalojas (Prolongación de la Avenida de Andalucía, Huelva)
23:00h. Muestra de Poesía Méxicana
Elia Domenzain, Mª Estela Leñero, Alejandra Peart, Roberto Castillo y José Angel Leyva




Jueves 7
Biblioteca Pública Provincial (Avda. Martín Alonso Pinzón 16, Huelva)
10:00h. Encuentro con el Autor
Presentación de los libros de Alejandro Aura “Cuentos y Ultramarinos. El Aura de Alejandro y Sonetos para cuando ya se va uno a morir” a cargo de Milagros Revenga (México) y Arantza Salaberria (España)


Casa Colón (Plaza del Punto, Huelva)
13:00h. Presentación de los libros de la Fundación Caja Rural del Sur
“De lo cercano” de Antonio García Barbeito y “Discursos de los Académicos” AAVV. (Comisión Gestora de la Academia Iberoamericana de La Rábida)


Casa Colón (Plaza del Punto, Huelva)
18:00h. Presentación del libro “Murillo Mendes y el libro Tiempo Español” Pablo del Barco (España)


19:00h. “Almanak Turbo” de Rodolfo Franco (Brasil) Aristas Martínez Ediciones


20:30h. Cata de libros, vino y jamón.
“De ornato mundi, ecopoemas” de Antonio Miranda (Presidente de la Biblioteca Nacional de Brasilia) con ilustraciones de Alvaro Nunes. Ed Jardim Botánico de Brasilia


Bar Cantalojas (Prolongación de la Avenida de Andalucía, Huelva)
23:00h. Muestra de Poesía Lusófona
Floriano Martins (Brasil), Fernando Esteves Pinto (Portugal), Antonio Miranda (Brasil), Tiago Nené (Portugal) y Rodolfo Franco (Brasil)




Viernes 8
Biblioteca Pública Provincial (Avda. Martín Alonso Pinzón 16, Huelva)
10:00h. Encuentro con el Autor
Mª Estela Leñero (México) presenta “Verbo líquido” y “Enciclopedia interactiva: Asómate al arte”


Casa Colón (Plaza del Punto, Huelva)
13:00h. Presentación de los libros de la Universidad de Huelva
"Captura y almacenamiento de CO2. Criterios y metodología para evaluar la idoneidad de una estructura geológica como almacén de CO2", coordinado por Emilio Romero y Bernardo Llamas Moya y "El Cantar de los Cantares en el humanismo español" de Sergio Fernández López.


Biblioteca Pública Provincial (Avda. Martín Alonso Pinzón 16, Huelva)
17:00h. Proyección del documental y presentación del libro “Tan lejos de Dios: poesía mexicana en la frontera norte” de Uberto Stabile (España) con Sayak Valencia, Alejandra Peart, José Angel Leyva y Roberto Castillo (Editorial Baile del Sol & UNAM)


Casa Colón (Plaza del Punto, Huelva)
18:00h. “Homenaje a los poetas brasileños Lêdo Ivo y José Santiago Naud”, con Floriano Martins (Brasil), José Angel Leyva (México) y Antonio Miranda (Brasil)


19:30h. Cata de libros, vino y jamón.
“Mujeres en su tinta: poetas españolas en el siglo XXI” de Uberto Stabile (España) con Alejandra Peart (México) Editorial Atemporia & UNAM


Auditorio Casa Colón
21:00h. Concierto de Jorge y Daniel Drexler




Sábado 9
Casa Colón (Plaza del Punto, Huelva)
12:00h. Presentación de los libros “Los tres cerditos” y “Órbita lunar” de Angel Poli (España)
presentan Francis Vaz y Paco Huelva


13:00h. Presentación del libro “Diario íntimo de Jack el destripador/cronopiando en verso y otras vainas” de Koldo Campos Sagaseta (España / República Dominicana)


Casa Colón (Plaza del Punto, Huelva)
18:00h Mesa redonda: “Escritura conquistada: conversaciones con poetas de Latinoamerica” de Floriano Martins (Brasil) con Susana Giraudo (Argentina) y José Angel Leyva (México)


19:00h. Presentación del libro “Polishop” de Tiago Nené (Portugal) Ed Col. Palabra Ibérica, Ayto de Punta Umbría


20:30h. Cata de libros, vino y jamón.
“Guardiao das Conchas” de Marcio Alexandre (Brasil) Editorial Pop Sul
“Hace triste” de Jordi Virallonga (España) Editorial DVD 

Freud e Pavlov

Era um sonho e havia neve.
Podia ser Moscovo ou Faro ou Nairóbi, não importa,
neste sonho a neve é uma constante.

A paisagem era frio baço
jaziam crianças roxas e gatos voláteis
todos recostados no chão,
Altivos como os mortos conseguem ser.

As pessoas dançavam muito
Tango ou bolero, dançavam para não morrer de frio.
uns até eram péssimos dançarinos
mas ninguém se ria deles
(houve até quem chorasse perante a efemeridade do
rubor das caras)

na cidade, difusas
as ruas esvaziavam-se de sentido.
Os cães que pairavam de poste em poste uivavam
mijavam-se com saudades da cegueira de bebé
do tempo em que sugavam tetas e batiam com os focinhos nas paredes.
A lua lutava por dentro e em cima das cabeças de todos,
exercia sobre nós uma força titânica
resvalava como terra num ruído metálico e
esquecíamo-nos dela
e do frio
quando lhes virávamos a cara.


Adriano Narciso